BOVINOCULTURA DE CORTE
Bovino Charolês
2.1 Apresentação
A origem da atividade bovina no país se deu com o deslocamento de animais da Península Ibérica, principalmente de Portugal. O gado crioulo era geralmente de pequeno porte e tardio no crescimento e na reprodução. Alguns fazendeiros com recursos importavam da França e da Inglaterra reprodutores para cruzamento, melhorando seus animais de trabalho.
Com a introdução do zebu, aos poucos, o gado crioulo foi absorvido pelas raças indianas, através de cruzamentos contínuos. A composição do rebanho brasileiro atualmente tem alto nível de participação zebuína, cerca de 80 a 85% do contigente nacional.
Pesquisas revelam que o cruzamento entre as espécies geram produtos de melhor qualidade e maior desempenho. No eixo Centro-Sul, além de cruzamentos com objetivos industriais, são feitas tentativas de formação de novas raças.
Os fatores que determinam a escolha da raça para atividades específicas são: as contingências climáticas e edáficas, o grau de desenvolvimento, o nível de instrução e cultura do ser humano e, sobretudo, o estágio em que a agricultura se encontra.
2.2 Confinamento de Bois
O confinamento de gado para engorda no Brasil é uma prática recente, com possibilidade de ampliação pelas vantagens que esta atividade apresenta. Vários são os autores que justificam a adoção do confinamento. [Peixoto, 1989] vê como vantagens: reduzir a idade de abate do animal; acelerar o giro de capital, com retorno mais rápido dos valores investidos na engorda e reduzir a ociosidade dos frigoríficos na entressafra. [Corrêa, 1988] afirma que o confinamento contribui também para aumentar a produtividade da pecuária de corte e é responsável pela oferta de empregos no meio rural.
[Vasconcellos, 1993] complementa ao citar: a produção da carne é de melhor qualidade e maior produção por área; existe maior rendimento de carcaças (até 63%), com diminuição da proporção de ossos e outros componentes de pouco valor; aproveitamento mais intensivo de pequenas propriedades pela utilização mais racional das pastagens; aproveitamento de doze ou mais animais por hectare plantado; índice de mortalidade baixíssimo; grande produção de adubo orgânico de bom valor para o uso ou venda; redução da ociosidade de curtumes e melhor utilização de mão-de-obra e recursos técnicos disponíveis.
A engorda confinada no Brasil normalmente alcança viabilidade econômica em determinado período do ano, coincidindo com a entressafra de carne produzida a pasto. No resto do ano é conveniente utilizar este espaço de confinamento para serviços ligados a outras categorias do plantel, otimizando seu aproveitamento.
Os principais fatores para a técnica de confinar gado são: os animais, os alimentos e as instalações. O fator mais importante é a escolha dos animais, tendo como características o peso na idade de abate; a taxa de crescimento; a quantidade e distribuição da gordura corporal e quantos quilos de carne comercializável cada animal rende.
Aparentemente cada boi tem um potencial de crescimento e de desenvolvimento desde que sejam favoráveis as condições para esta finalidade: ambiente adequado e alimentação apropriada.
O animal tem cinco qualidades inerentes ao seu desenvolvimento, a saber: rapidez e eficiência de crescimento, tamanho grande, alto rendimento, grande quantidade de carne e alta qualificação de carcaça.
Mesmo assim, torna-se sempre difícil avaliar no animal vivo qual o tipo ideal de bovino para corte. O peso e a idade em que os animais vão para o confinamento têm papel importante no processo de ganho de peso. Os animais mais novos, e portanto mais leves, acusam conversão alimentar mais eficazes e custos relativos de produção mais baixos.
Numa pesquisa feita no Rio Grande do Sul, segundo Peixoto, o comportamento de bezerros das raças hereford e poller-hereford apontaram que a percentagem de carne aproveitável cai com a aumento do peso vivo, embora o rendimento da carcaça aumente. A preferência brasileira ainda recai sobre animais mais velhos, com trinta a trinta e cinco meses, ou pouco além, e peso vivo entre 330 e 350 kg.
Levantamento feito pela Empresa de Pesquisa Agrícola de Minas Gerais e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Epamig/Emater), no final da década de setenta, apontou idade inicial no confinamento de 34,5 meses com variação de vinte a quarenta e oito meses e peso médio inicial de aproximadamente de 340 kg, variando entre os limites de 270 e 445 kg. Os valores médios para idade foram considerados superiores aos tecnicamente recomendados, o que contribui para a conversão alimentar média inferior à desejada.
Segundo Vasconcellos, animais mais novos, em recria, são ainda capazes de garantir bons ganhos de peso através de crescimento compensatório, desde que alimentados com alto nível nutricional.
Outro fator de importância diz respeito ao preparo dos animais para o confinamento, que pretende deixá-los em boas condições para responder a um trato específico e intensivo na forma de ganho rápido de peso. Trata-se, na verdade, de seguir os precondicionamentos sanitário, alimentar e ambiental, destinados a reduzir quaisquer fatores desfavoráveis à acumulação de gordura nos tecidos do animal.
O precondicionamento sanitário consiste em um programa específico de vacinações e controle de parasitas, aliado a um acompanhamento permanente do estado de saúde dos bovinos. Por exemplo, a vacinação contra a febre afetosa deve ser realizada antes de se iniciar o confinamento.
O precondicionamento alimentar visa fazer com que a flora e a fauna microbianas do rúmen tenham uma adaptação rápida à transformação de um conteúdo dietético. Assim, a silagem de grãos e concentrados, requer maior tempo de adaptação que a cana-de-açúcar. Em geral, o processo de adaptação demora de dez a vinte dias para se completar.
Finalmente o ambiente: os procedimentos nessa área têm como objetivo acostumar o animal às instalações do confinamento, ao movimento de máquinas e implementos, à presença do ser humano, dentre outras coisas. O precondicionamento ambiental também envolve a convivência entre animais de origens distintas. Esta fase inclui ainda o implante ou o fornecimento de anabolizantes e aditivos, utilizadas para tornar mais eficaz o trabalho de engorda.
Uma última consideração importante trata da pesagem dos animais, que deve ser feita num período intervalo com vinte e oito dias. Com o intuito de não prejudicar muito o animal, uma vez que o momento da pesagem exige muito do gado, sugere-se, como uma medida de segurança, pesar o lote de animais em uma amostragem significativa - estatisticamente correta, evitando assim o estresse do boi e um rendimento maior, dada a necessidade do pré-jejum para a pesagem.
A fase de terminação de bovinos em confinamento está diretamente relacionada à viabilidade econômica da atividade, em que são levados em conta o preço real diferenciado da carne bovina na entressafra, o alto ganho diário de peso e o custo de produção compatível com a expectativa de preço do mercado.
2.3 Alimentos
Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a pecuária de corte, com ênfase no confinamento, se apresenta num estágio inicial, sem técnica desenvolvida e com poucos recursos para a obtenção de energia e proteína nas dietas dos animais, salvo através de alimentos volumosos. No entanto, a disponibilidade de grãos é pequena, os suprimentos protéicos são exportados em larga escala, a relação disponibilidade de grãos e o preço de carne bovina é desvantajosa, na maior parte do ano. Ainda, a variação do valor real da carne ao longo do ano é muito grande, principalmente entre os períodos de picos de safra e entressafra.
Como conseqüência, o confinamento de bovinos tem se concentrado na entressafra, com ênfase na utilização de animais mais velhos, dois a três anos, menos exigentes que os mais jovens, e que normalmente apresentam um ganho satisfatório, baseando-se no uso de larga escala de alimentos volumosos.
2.4 Ração Balanceada
[Ruiz, 1984] define como ração balanceada a quantidade de alimento capaz de prover, para um animal, os diversos nutrientes numa porção compatível com determinado nível de produção diária. Assim, a formulação de uma ração implica em integração de conhecimentos relacionados com as exigências do animal (para determinado nível de produção), características nutricionais dos alimentos e relação benefício - custo esperado.
2.5 Custo de Produção Compatível com a Expectativa de Preços de Mercado
Por ser a terminação de bovinos em confinamento uma atividade que demanda alto investimento, num período de curta duração, e o preço de mercado da carne apresentar-se às vezes baixo, é importante que o produtor gerencie os recursos para o confinamento, usando todas as recomendações que maximizem o lucro. No custo de produção do bovino confinado, o componente que tem maior participação é a alimentação, com cerca de 60 a 80% do custo variável. Portanto, é de suma importância que a produção, aquisição, balanceamento e manejo da alimentação sejam conduzidos de modo adequado, para se obter maior eficiência deste investimento no confinamento.
A alimentação no confinamento é composta basicamente do volumoso, da ração concentrada e do sal mineralizado. Dentre estes, a ração concentrada apresenta a maior participação no custo total da alimentação.
2.6 Manejo da Alimentação
A viabilidade econômica da atividade está calcada no desempenho do bovino em confinamento, tendo como considerações o balanceamento nutritivo adequado, o manejo da alimentação e, de certa forma, no uso de aditivos e anabolizantes. A utilização correta destes mecanismos permite aumentar o ganho diário de peso vivo e melhorar a conversão alimentar.
O manejo adequado está intimamente relacionado com a freqüência da alimentação. A ração, no dia a dia, de uma maneira regular, tem um efeito positivo no desempenho de bovinos em confinamento. Boin [Peixoto, 1989], aconselha, como orientação prática, fornecer a ração em pelo menos quatro porções diárias, evitando-se o desperdício.
No intuito de não permitir fermentações secundárias que possam afetar a ingestão e a saúde do animal, produtos úmidos conservados na forma de silagem devem ser fornecidos várias vezes ao dia.
O balanceamento das rações sempre é feito com base em uma composição bromatológica média (proteína e sais minerais) e um valor nutritivo médio (energia) para cada ingrediente utilizado. Qualquer variação na composição e no valor nutritivo dos ingredientes causará alteração no desempenho do animal.
Os dois fatores que delimitam a produtividade são a capacidade de ingestão de energia digestível e a composição de ganho de peso vivo. No entanto, nem sempre é desejável maximizar o desempenho animal, tanto se tratando da fase inicial, quanto no período de confinamento, pois se faz necessário levar em conta outros fatores também relevantes, como o crescimento de acordo com o potencial genético do gado e a taxa de gordura depositada por unidade de ganho de peso.
O desempenho está diretamente relacionado ao valor alimentar da dieta. Entretanto, existe um limite de produção para cada tipo de animal, definido pela raça, grau de estrutura corporal, estado físico ou grau de acabamento.
2.7 Arraçoamento do Bovino de Corte
As principais fontes de alimentação para a engorda de gado no país são as pastagens nativas. Nas regiões sul e sudeste, normalmente no período de outono e inverno - de maio a outubro - as pastagens tornam-se secas, deficientes em fatores nutricionais, influenciando na perda de peso dos animais e tendo como conseqüência um atraso significativo no abate.
O confinamento de bovinos é utilizado para sanar tais problemas. Esta prática tem sido usada largamente atingido grande desenvolvimento, estimando-se em 1989, o confinamento de 700 mil cabeças, setenta e cinco porcento a mais do que no ano anterior. Apesar disso, a atividade é muito regionalizada, tornando-a fortemente dependente das fontes de alimentos disponíveis [Thiago, 1991].
Vários autores defendem técnicas de balanceamento de rações. [Beeson, 1973] sugere calcular as necessidades nutricionais sobre uma base de matéria seca. Quando se faz isto, segundo o autor, as necessidades nutricionais de um animal podem comparar-se diretamente com as percentagens de elementos nutritivos da ração seca, sem que se tenha que fazer nenhum outro cálculo.
[Silvestre, 1983] discute o método de tentativa, que se calca em alcançar o equilíbrio no aumento e diminuição das quantidades dos alimentos até que as exigências do animal sejam atendidas. Este processo depende excessivamente da experiência do agricultor. Silvestre, em seu livro, também discute o Quadrado de Pearson, trabalhando basicamente com o valor relativo de um determinado nutriente, estabelecendo proporções entre dois ou mais alimentos.
Com o uso computacional, [Lanzer, 1984] apresenta o Sistema de Programação Linear para Microcomputador, possibilitando a utilização de programação linear para combinar os alimentos, em quantidades apropriadas, para atender as exigências com um mínimo custo e máxima eficiência.
Alguns softwares de maior envergadura também foram colocados no mercado para resolver problemas diversos utilizando programação linear e outros instrumentos operacionais, como é o caso do Lindo e do Gams.
Recentemente, [Ferreira, 1993] faz estimativa de ganho de peso de gado de corte sob condições nutricionais, considerando principalmente o grau de estrutura corporal e a condição corporal do animal e [Coutinho, 1994] propõe o pacote Sisnutre que possui rações para bovinos de corte com várias categorias de pesos e alguns níveis de engorda.
2.8 Noções Gerais de Zootecnia (Melhoramento da Espécie)
Genética é a ciência que estuda as leis da transmissão dos caracteres hereditários nos indivíduos e as propriedades das partículas que asseguram essa transmissão.
Raça é uma subdivisão da espécie, constituída por uma porção de indivíduos pertencentes à mesma espécie, que possuem certos caracteres chamados étnicos, transmissíveis por herança aos filhos (descendentes) quando são acasalados (cruzados), permitindo diferenciar tipos de raças. Esses caracteres são:
1.Morfológicos - quando visíveis a olho nu, como: forma do corpo, espessura, maciez e elasticidade de couro ou da pele; cor dos pelos e da mucosa: tamanho das orelhas; estatura; chifres, etc.
2.Fisiológicos - quando internos, como: rusticidade; precocidade; vigor, prolificidade, etc.
3.Psicológicos - quando relacionados com o sistema nervoso, como: vivacidade; instinto; caráter, etc. e
4.Econômicos - de acordo com a aptidão, como: leiteira; produtora de carne; de manteiga, etc.
Os cruzamentos entre taurinos e indianos constituem a solução lógica e prática para a pecuária brasileira, tanto no que se refere a leite como a corte, permitindo formar a curto prazo rebanhos com maiores índices de produtividade, melhor constituição e mais fortes.
O cruzamento simples produz animal do tipo industrial, de maior resistência e produtividade, que apresenta o vigor híbrido ou heterose, responsável pelo aumento de produção dos descendentes em relação à média dos pais. O produto é uma animal de extraordinária eficiência econômica, constituindo a melhor produção de carne ou leite de forma moderna e eficiente, uma vez que não existe nenhuma raça significativamente superior.
As características econômicas desejadas com o uso de cruzamentos são a fertilidade - índice mais alto de natalidade; elevação da porcentagem de bezerro (crescimento rápido); habilidade maternal; maior precocidade, antecipando a entrada na reprodução e a idade para abate. Eficiência na utilização dos alimentos (conversão).
A pecuária de corte mostra que os animais produtores de carne são aqueles que, mediante seleção rigorosa, podem converter a menor quantidade de alimentos na maior quantidade de carne dentro de um tempo mínimo; devem ainda apresentar alto rendimento do peso bruto em músculos, considerado bom quando superior a 58%. Do peso bruto vivo, descontando-se a cabeça, o couro, as vísceras e os mocotós, fica a carcaça limpa, que deverá conter no máximo 6% de gordura, distribuída uniformemente na parte externa, com a ossatura mais leve possível.
Na escolha dos animais para exploração de carne, a preferência recairá nos animais de aclimatação rápida e completa, precocidade no desenvolvimento, índole mansa, rusticidade, couro solto com pigmentação escura (para melhor resistência ao calor e às fortes exposições ao sol), capacidade de boa conversão, mesmo quando em terras fracas, com pastagens nativas ou praguejadas e, ainda, resistência aos parasitos (bernes, carrapatos, vermes etc.).
No caso das fêmeas, devem parir animais de cabeça relativamente pequena, para não surgirem problemas na ocasião do parto.
Com esses requisitos, mais as informações com referência ao ganho de peso (ficha abaixo) há condições de se obter um animal que, com menos idade e em menor espaço de tempo, produza carne tenra, enxuta, macia e saborosa.
Quadro 2.1 - Algumas Características Transmitidas por Hereditariedade
O índice de fertilidade, ou capacidade reprodutora, deve ser elevado (acima de 80%) para que a vaca apresente produção anual de um bezerro e possa criá-lo, resultando em pouco descarte ou reposição.
Os animais destinados a servir como touros devem ser filhos de vacas de grande fertilidade e também possuir alta capacidade de fecundar fêmeas. O potencial genético individual deve ser alto e a eficiência de ganho de peso acima de 80%, produzindo animais vigorosos e pesados em tempo precoce, com boa capacidade de conversão, à razão de 1 kg de peso vivo por dia, com rendimento de 55% no mínimo. O mérito da carcaça é o fator principal no gado de corte.
2.9 Instalações para o Confinamento
[Peixoto, 1991] e [Vasconcellos, 1993] descrevem cuidados para as construções e instalações diversas, onde ressaltam preocupação da presença da assistência técnica, devendo ser observados os conceitos de economia e funcionalidade e respeitadas as normas conforme os objetivos preestabelecidos.
REFERÊNCIAS
TEXTO EXTRAÍDO DO ENDEREÇO
http://www.eps.ufsc.br/disserta96/candido/cap2/cap2.htm
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