domingo, 17 de julho de 2011

RESENHA DO LIVRO "SABER PENSAR" - PEDRO DEMO

RESENHA

LIVRO: “SABER PENSAR”

Referência:
DEMO, Pedro. Saber pensar. São Paulo: Cortez, 2000. 159 p.

O escritor catarinense Pedro Demo tem formação básica em teologia, filosofia e doutorado em sociologia pela Universidade de Saarbrucken, na Alemanha. Professor titular da Universidade de Brasília tem atuação acadêmica destacada na política social e na metodologia científica brasileira. Atualmente, dedica-se principalmente, a educação contemplada sob a ótica do desenvolvimento pessoal. É reconhecido conferencista educacional e publicou mais de trinta livros, dentre eles, pela Editora Vozes, Conhecimento Moderno, 1997; Petropólis, RJ: Desafios Modernos da Educação, 6ª ed., 1997; A obra “Saber Pensar” se divide em duas partes:
A primeira parte do estudo está voltada para os componentes do Saber Pensar, com uma série de sete tópicos distintos e relatados até a página 81;
A segunda parte, com o título “Reconstruir Ciência”, aborda diferentes tópicos e termina na página 143.
O prefácio escrito por Paulo Roberto Padilha apresenta um texto deixando bem claro que Pedro Demo propõe aos leitores caminhos a trilhar capaz de superar a arrogância perante um falso conhecimento e o despreparo para tratarmos não só com a informação, mas com a formação e o próprio conhecimento (p. 13). Ele informa que o autor “é contra o fato de estarmos sempre servindo ‘café requentado' na educação” (p. 15).
Na introdução deparamos com o conceito de “saber pensar” que não se resume ao singelo pensamento, mas também como mecanismo de a tudo intervir. Trata-se de “teoria e a prática, e vice-versa”, não se limita a fazer por fazer, mas busca compreender o motivo e o como fazer (p. 17). Com a consciente alerta de que “discutir o saber pensar inclui contradição inerente”, pois tem como ponto de partida a autonomia do pensar, incompatível com a tentativa de querer ensinar. “O saber pensar precisa de orientação” (p.18). “O autor também ressalta que o conhecimento tem limites e o ser humano não é capaz de ter conhecimento de tudo, pois não há biblioteca ambulante na cabeça dos indivíduos” (p. 19).
Nesta primeira parte o autor aborda de forma explicativa os componentes do Saber Pensar, pelo qual resumimos a seguir:
1- Pensar é o primeiro dos Componentes do Saber Pensar. O autor passa a “ideia da compreensão” da fala e do agir. “Compreender é questão de lógica”, mas, desta, o que mais interessa não é o expresso e sim o que está nas entrelinhas, pois “para compreender é necessário também sacar o que não se diz no silêncio, a entonação e o meneio” (p. 23). É preciso ocorrer entre professor e aluno a construção social da autonomia.
O autor Pedro Demo que se compreende melhor o que está mais bem ordenado, mas sob a nossa lógica própria, arrumado do nosso jeito. A lógica que normalmente é vista pelo lado da dedução, a imposição da conclusão face à premissa geral; mas que também se orienta pelo caminho inverso, o da probabilidade da regra geral face à constatação das particularidades, ou seja, a indução. E adverte que se o problema da dedução é a certeza ou não da premissa maior, na indução os fatos representam o problema, dado que nem sempre tudo é óbvio ou leva à regra geral verdadeira (página 24 a 25).
Não obstante, a lógica tem sua função, como eliminação de contradição e a sistematicidade do fluido do raciocínio, ela não é tudo, “quer dizer, a relação humana também conta, por vezes mais que a lógica”, dado que esta é procedimento, “é forma, não conteúdo”, e no mundo real, regra geral, mais vale o consenso que a lógica (p. 29). Viver precisa de “bom senso”, traduz que não conta só a lógica, mas também a experiência, a vivência e a sensibilidade do indivíduo (página 30).
Depois desta abordagem eu (Vilson Arruda) acredito que o pensar está relacionado à compreensão do que se diz e se faz na prática. Devemos saber pensar!!! Chamamos de indução o raciocínio de fatos particulares que se tira uma conclusão genérica. A lógica é método que permite distinguir raciocínios válidos de outros não válidos. O bom senso é a capacidade de avaliar as situações complicadas e achar uma solução adequada para cada situação ou acontecimentos (fatos).
2- Lógica e Jeito: é o segundo componente do Saber Pensar. Neste ponto Demo defende a tese de que “não somos seres propriamente racionais. Somos sobre tudo emotivos”. Se há horas em que a emoção impede o raciocínio, noutras vezes o torna muito mais “vivo, colorido, vibrante”, pois se a vida, em vez de complexa, fosse binária, seríamos máquina, não seres humanos (página 31).
O autor acredita que é impossível estudar algo sem interpretar, pois “somos sujeitos (pessoas), e não objetos; entidades subjetivas, hermenêuticas”. (página 37)
Após, ler e interpretar este componente, concluo que apesar de nós ter ideias é preciso ter jeito para pensar. Aqui está em jogo a variedade de facetas relevantes no bom jogo do saber pensar, a começar pelo reconhecimento de que não somos seres propriamente racionais, mas muito emotivos, pois temos espírito e alma.
3- Arte de Argumentar é o terceiro componente do Saber Pensar. A Arte de Argumentar pode resumidamente, ser definida como ciência, desde que se ultrapasse a tentação de reduzir a realidade àquilo que o método consegue captar, a redução a uma quantificação. Dado que nada é evidente e, é inevitável a necessidade da fundamentação, circunstância que confere à ciência e a sua natureza polêmica. O que “supõe dois horizontes entrelaçados” (página 39):
O discurso científico necessita de textura lógica e sistematicidade, pois só é possível discutir adequadamente o que se mostra “bem-feito cientificamente falando”; A sua extensão é limitada, uma vez que a interpretação recai sobre a realidade sob um determinado ponto de vista (p. 40).
“Estamos diante de fenômeno epistemológico que significa, ao mesmo tempo, limite e potencialidade”. Limite porque todo discurso científico tem seus métodos próprios, funda-se sobre si mesmo, não é certeza para todos e “toda argumentação é, em si mesma, convite à contra-argumentação” (p. 40). Potencialidade porque é um processo infinito de renovação própria, “reconhecendo que nada se pode, a rigor, provar, mas fundadamente reconstruir”, e por isto “toda nova teoria conclama outras que a possam superar, em nome de realidade que nunca vemos de todo” (p. 41).
No fundo, toda fundamentação interpretativa carece de um pré-conhecimento, já que não se pode produzir nenhum argumento final sem esse componente. Deste modo, toda crítica, para ser coerente precisa de autocrítica, reconhecer limites na própria argumentação (p. 41-42). Ciente de que a ideia de “consciência autocrítica” deve estar atrelada a duas atividades:

a) “exercício irrestrito da crítica, colocando a realidade acima de qualquer teoria”, devendo ser sistemática, implacável e não admitir censura;

b) “exercício modesto da crítica”, pois tem consciência que apontar erros é também neles recair e estar, assim, aberto a novas críticas (p. 42).
Seguindo Habermas, Demo explica que o processo de argumentar leva em consideração duas referências:
A primeira referência é a lógica, já que todo argumento científico válido exige sistematicidade, tessitura lógica e perfuração analítica;
A segunda referência é política, dado que a validade sempre implica reconhecer a relatividade do tempo histórico (p. 43-44).
A ciência não se constrói só com a lógica, mas não se reduz à política, transformando-se em ideologia somente. “Discurso científico é aquele no qual predomina a argumentação, estando mais a serviço de desvendar a realidade do que vendê-la para adeptos”. Entretanto, apesar de ultrapassar o senso comum, também incorpora elementos do senso comum. Em síntese, a verdade “formalmente falando, precisa de sustentação lógica. Politicamente falando, precisa de consenso” (p. 44). A arte de argumentar reconhece que o ser humano e a sociedade não operam exclusivamente pela lógica (p. 45).
Neste componente aprendi que a arte de argumentar considera que o ser humano e a sociedade em que vivemos não funcionam apenas pela lógica. Uma boa argumentação busca analisar a realidade, não perdendo de vista quem pretende comunicar, entender-se e convencer.
4- Saber Aprender, o quarto item trata do recusar a reprodução, “é fazer-se oportunidade” e assim “é fenômeno sempre reconstrutivo e político” (página 47).
A aprendizagem é ato reconstrutivo porque é essencialmente aprender o aprendido, em processo que traduz (hermenêutico) parte do que já sabíamos, cuja marca principal é a “dinâmica conexionista” (p. 49-50). Mas é também fenômeno político porque é relação inseparável entre o objeto e o sujeito que interpreta e interage (p. 50).
5- Saber Cuidar, cujo significado consiste na visão de que conhecer é não só capacidade de compreender, mas também de conviver com ela, torná-la como medida de sobrevivência, “reconhecê-la como maior que nós” (p. 55). Pois fazemos parte da realidade e, de certo modo, estudar a realidade é estudar a nós mesmos, nossa natureza, nosso funcionamento, nosso interior e nossos desejos (p. 56).
6- Saber Inovar, o que inclui a capacidade de entender a sociedade, caracterizada, hoje, por profundas inovações, por força do progresso científico e tecnológico. Se bem que não adianta “inovar por inovar” (p. 63). Às vezes é preciso ir mais devagar, pois se pode concluir com Glaxton que “nossa lentidão é o preço da profundidade hermenêutica, da capacidade de estabelecer padrões complexos, de errar e corrigir, de ver mais longe e fundo” (p. 64).
Na era digital, Demo deixa um aviso importante ao professor: aquele que só reproduz conhecimento disponível é “peça de museu”, enquanto que o bom professor, o que sabe orientar, avaliar, motivar, continuará sempre essencial. “Não há computador que o possa substituir” (p. 67). Após fazer um relato breve sobre os aspectos negativos e positivos do mundo digital, o autor conclui, que “inovar já não é novidade. Saber inovar, entretanto, continua desafio mais novo que nunca” (p. 72). O professor deve estar atento para a qualificação constante. Aberto a inovação.
7- Saber Acreditar: o estudo dos componentes do Saber Pensar encerra com o Saber Acreditar porque na vida existem coisas que ultrapassam a visão metodológica da ciência (p. 73). O que não implica ignorância científica, o abandono do questionamento. Este é a “regra de ouro” da ciência, “mas, quando se trata da vida em sociedade, saber acreditar é componente não menos essencial”, porque é o que tece a confiança e a solidariedade. O que se define pelas contraprovas da própria ciência, uma vez que os paradigmas nada mais são do que “cristalizações sociais de teorias que passam a valer mais pela crença dos adeptos do que pelo questionamento” (página 80).
Assim, acredito que perante o racionalismo moderno, saber acreditar parece ser contraditório, pois a ciência mostraria a direção contrária da dúvida e do questionamento.
O conhecimento não reconhece limites, mas é tipicamente atividade limitada. Resumindo pode-se dizer que a ciência acredita em si mesma.
A segunda parte, Reconstruir Ciência, se refere a uma proposta “mais operativa”, em que o autor considera proveitoso discutir estratégias para a reconstrução do conhecimento, ressaltando a pesquisa como princípio educativo, buscando criar profissionais pesquisadores, pois o aluno precisa semear sua autonomia e ser capaz de elaborar sua própria história. Entretanto, tendo como idéia primeira a cidadania, para que todos possam ser senhores do seu próprio destino e trilhar por caminhos de solidariedade (p. 84).
Logo de início, Demo destrói o conceito de aprender como mero instrucionismo, mostrando que a melhor via para o conhecimento não está em "escutar aula", mas em pesquisar e reconstruir com mão própria, tendo o professor à tarefa de promover a pesquisa e elaboração própria (p. 85).
Estudar é ler autores, com base em elaboração própria, para se tornar também autor, mas é também "contra-ler", no significado de saber questionar o autor, interpretar os argumentos principais e reconstruí-los com mão própria (p. 87). O aluno que sabe pesquisar, diz Demo, aprende a aprender e valerá na sociedade futuramente; enquanto os outros ficarão à deriva. Na atual sociedade do conhecimento, aprender tornou-se direito humano fundamental, quase ao nível do direito à vida (p. 89).
O Aprender se tornou direito permanente, tanto para a integração no mercado, quanto, e principalmente, para o exercício pleno da cidadania (p. 90). Mas para que haja pesquisa, definida como "questionamento reconstrutivo", é preciso questionamento e reconstrução (p.43).
A argumentação correta é essencialmente questionamento, tendo duas etapas decisivas:

a) Primeiro lugar é necessário aprender os argumentos disponíveis nas teorias atuais;

b) Na segunda parte, é preciso transformá-los em argumentos próprios (p. 108). Sendo que não pode ser mera "cola" escondida sob o manto da autoridade alheia, mas o agir de que se propõe ocupar seu próprio espaço (páginas 108-109).
A crítica, cuja função é tipicamente desconstrutiva, ocupa papel central no processo
de argumentação, contudo, mantendo-se sempre elegante, sem deixar de desconstruir, evidenciando erros e impropriedades (página 110).
A obra nos ensina que "antes de inventar dados, é importante trabalhar a informação já disponível" (p. 123) e, não só, é preciso saber trabalhar criticamente os dados, mas estar consciente das diferenças entre o trabalho quantitativo e o qualitativo. Este último tipo de pesquisa é muito mais severo complexo (página 130).
O autor esclarece que a maneira interessante de iniciar a pesquisa é por intermédio da prática, pois "toda teoria precisa confrontar-se com a prática", valendo-se do mesmo o modo o inverso, voltar-se à teoria para que se possa revisar o conteúdo e, se possível, superá-la. A teoria tem as suas virtudes, mas é preciso cuidar-se para não cair em rotiina. Para tanto, necessário é "permanentemente, um banho de teoria crítica" (p. 131). Por seu lado, a prática tem a função exemplar de fazer da boa teoria a teoria da oportunidade, encontrando a prática renovada (p. 132).
No último tópico da segunda parte, ponto 8, retoma o autor a questão da evolução tecnológica, afirmando que na sociedade do conhecimento, a teleducação tem lugar marcado na educação, "para melhor e por vezes para pior". E talvez o maior problema é se tornar instrucionismo, muitas vezes um "telensino" em sala de aula que se resume em "enfeitar" (página 137). Entretanto, o certo é "a pesquisa, tanto em sua versão de princípio científico quanto na de princípio educativo, não prescindirá dos meios cibernéticos" (página 138). Não adiantando querer parar o curso da história, pois, "em vez de olhar apenas de longe e se contentar com os restos, cabe ocupar os espaços possíveis, primeiro como 'carona', e depois tomando o volante, onde for viável. Para humanizar o mundo cibernético, é preciso ocupá-lo" (página 143).
O escritor Pedro Demo conclui, com “A Construção Social da Autonomia”, que saber pensar como estratégia metodológica pode assegurar direções mais efetivas “e traduzir para as excluídas oportunidades mais palpáveis” (página145). Pois a maior miséria é a ignorância, uma vez que “para superar a fome não basta receber comida, mas é essencial ter condições de prover o próprio sustento já que ao pobre não se tem dado a chance de ser sujeito da sua própria história. (página 146).
Deste modo, Saber Pensar, na sua primeira parte, abarca fundamentos epistemológicos simples, mas essenciais para qualquer um que se queira aventurar pelos caminhos do saber. Trata-se de um “guia” que pode não só ajudar o aluno na sua caminha acadêmica de reconstrução do saber, como ao próprio professor, aquele sério, que tem como objetivo real o aprendizado dos seus discentes.
Apesar de ressaltar a dialética, talvez à sua influência, diga-se, habermasiano-marxista, não deixa de mostrar a função essencial da lógica, demonstrando que não pesca atum com a mesma vara que se pega uma tainha, pois, no fundo, tudo depende do que se quer apanhar na realidade. Também, nas linhas simples e claras, há verdadeiras lições para tanto para aqueles que se julgam donos do saber absoluto, como se tudo fosse permanente; quanto também para os “tímidos”, os que se refugiam sob o manto da autoridade do mestre e se recusa a esboçar qualquer sinal de crítica, com medo, sem saber que ousar conhecer é uma luta constante entre o perigo de sucumbir e o perigo de patinar na ignorância.









CONCLUSÃO DO RESENHISTA



Saber pensar faz parte do saber viver... Estamos sempre em reconstrução da autonomia... Precisamos ver os fatos com uma visão imparcial, desprovida de preconceitos, aceitando no novo e aprendendo com ele, não aceitando o fato de imediato, vivenciando com respeito algo que até aqui era desconhecido. Criticar com sabedoria... É preciso não se prender de forma tão fechada e rígida naquilo em que acreditamos... A inicial do saber é a prática. Não existe saber absoluto... É preciso meditar e refletir no novo com isenção, sem idéias preconcebidas. Todos os dias estamos aprendendo coisas novas... Superando a ignorância. Saber Pensar exige técnicas para pensá-lo, argumentar, inovar e cuidar nas conclusões finais dos acontecimentos observáveis de forma que seja racional, mas que também que tenha pitadas de emoção...

O professor moderno deve construir a sua aula elaborando um planejamento baseado em projetos de pesquisa dinâmica. A maneira interessante de iniciar a pesquisa é por intermédio da prática, pois "toda teoria precisa confrontar-se com a prática", valendo-se do mesmo o modo o inverso, voltar-se à teoria para que se possa revisar o conteúdo e, se possível, superá-la. A teoria tem as suas virtudes, mas é preciso cuidar-se para não cair em rotiina. Para tanto, é necessário "permanentemente, um banho de teoria crítica".

REFERÊNCIAS:
DEMO, Pedro. Saber pensar. 3.ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002. 159p. ((Guia da escola cidadã;v. 6)) ISBN 8524907622 (broch.)

Web:
http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0035.asp
Acesso em: 03de junho 2011

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