quinta-feira, 23 de abril de 2009

RENDA É FLUXO, RIQUEZA É ESTOQUE




CONCENTRAÇÃO DE RENDA NO BRASIL É PERIGOSA




O Brasil, com 170 milhões de habitantes, a nona economia mundial e a quarta maior concentração de renda do planeta, tem em seu território cerca de 50 milhões de pessoas vivendo em condições de indigência, com renda inferior a 80 reais por mês.


A concentração de renda no Brasil gerou cinco categorias de grupos sociais, segundo indicadores do desenvolvimento, publicados há um mês pelo Banco Mundial:


Os miseráveis correspondem a 24 milhões;


Os pobres, 30 milhões;


Os quase pobres, 60 milhões;


A classe média, 50 milhões;


Os ricos, 2 milhões.
A concentração de renda média dos mais ricos é 150 vezes maior que a renda média dos mais pobres.


A riqueza privada no Brasil está na ordem de R$ 2 trilhões.


Os ricos controlam 53% deste valor. ‘‘Não há evidência no mundo de país em que isso ocorra.
Nos Estados Unidos, os Bill Gates da vida controlam 26% da riqueza, metade do que os mais ricos no Brasil controlam’’, afirma o economista da UFRJ, Reinaldo Gonçalves.
Riqueza corresponde ao total dos prédios residenciais e não residenciais, máquinas e equipamentos, automóveis, eletrodomésticos, base monetária e títulos do governo em poder do público, menos a dívida externa líquida. ‘


Renda é fluxo, riqueza é estoque’’, caracteriza Reinaldo Gonçalves.


‘‘A concentração do fluxo deriva da concentração do estoque’’.
Gini — O índice de Gini, que mede internacionalmente a distribuição de renda, está em 0,6 no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD), de 1998. Quanto mais próximo de 1, mais desigual é a distribuição da renda no país.
Piores que o Brasil no mundo, só a República Centro-Africana e Suazilândia, com 0,61, e Serra Leoa, com 0,63. Todos os outros 150 países considerados no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas têm Gini menor que 0,60.
A desigualdade no Brasil vem sendo agravada pelos ajustes fiscais que sacrificam os programas sociais e geram mais concentração de renda. ‘‘Quando se faz ajuste assentado em estrutura tributária regressiva, a concentração aumenta’’, garante o economista da UFRJ. ‘‘É o que acontece no Brasil com a CPMF.
O sujeito que ganha salário mínimo e faz um cheque de 100 reais para as compras do mês, paga o mesmo imposto de quem tira R$ 100 do banco para comprar champanhe’’.
Reinaldo Gonçalves ressalta que o ajuste reduz a renda pessoal disponível dos mais pobres. ‘‘A massa de salários no Brasil está caindo mais do que a renda. Em 1999 caiu 5%, enquanto a renda brasileira caiu 0.7%’’.
Desemprego — Para o professor de história da Universidade Federal Fluminense, Bernardo Koche, o pior ajuste é o do plano Real, que no seu entender não só despreza a questão social, como a coloca sob a lógica do mercado. ‘‘A política econômica vulnerabiliza o movimento trabalhista, pois aumenta o desemprego. Nunca entendi distribuição da renda com aumento de desemprego’’.
Bernardo Koche considera que a questão social no Brasil hoje ‘‘está igual ou pior que na primeira república’’, período entre 1889 e 1930. ‘‘É a elite que se apossa do estado. Naquele momento, era cafeicultora. Hoje, é tecnocrata e associada ao capital internacional, sem preocupação com o mercado interno’’.
O professor de história vê semelhanças na política macroeconômica dos dois períodos, referindo-se a Campos Salles, a quem o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso já comparou seu governo. ‘‘O modelo atual é de políticas deflacionárias, como o de Campos Sales, para honrar compromissos externos. A mentalidade que orienta as políticas econômicas é a mesma, sem conseguir deflação profunda.’’

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