domingo, 6 de junho de 2010

PRÁTICA DOCENTE E ÉTICA


PRÁTICA DOCENTE E ÉTICA

A prática docente, na atual conjuntura, está sendo questionada pelos diferentes segmentos da sociedade. Temos em vista uma nova ordem na educação. Estão preparando um tipo de ENEM para avaliar os professores. Nós professores estamos avaliando os alunos desde os tempos dos jesuítas e agora chegou a nossa vez de prestarmos contas para a sociedade brasileira. A maioria dos professores questiona se isto é justo ou ético. Moral ou imoral.
Entendo que educar não é tarefa única da escola, mas o enfoque humanístico da educação confere a ela a responsabilidade de transmitir conhecimentos e ampliar horizontes do ser humano pela condição de ser, a educação, um direito fundamental do homem.
Eu mesmo fico muitas vezes perdido. Perplexo com as adversidades que ocorrem na sala de aula, e creio que com o tempo ficamos superados pelos novos valores que a sociedade nos impõe. Às vezes me questiono se há ausência de valores, ou os valores é que mudaram e eu continuo no tempo passado. A educação é um processo continuado e humano, uma consequência da interação com a família, do acesso aos bens culturais e da infraestrutura de uma escola. Estamos mergulhados numa violência sem precedentes dos jovens no colégio, talvez motivados pelo atual modelo cultural vigente e apoiado por uma mídia sem controle que apóia a liberdade sexual, tolerância excessiva dos pais, falta de limites, ausência de valores, e adultinização precoce. Esses fatores desencadeiam procedimentos inadequados de conduta na sala de aula e a perda da autoridade do professor, diretor e serviços de monitoria criando um clima para que se crie um ambiente desajustado ao trabalho educativo.
Eu entendo que sempre existiram práticas de autoritarismo entre os seres humanos no âmbito escolar, só que agora começamos a discutir também isso na escola. Paulo Freire tem uma frase poderosíssima que é o fundamento ético mais importante da escola: “Não há saber melhor ou pior, há saberes diferentes”. Esse é um princípio cientificamente comprovado. A Editora Vozes acabou de publicar o livro de Sandra Jovchelovitch, “Os Contextos do Saber”, no qual ela analisa lindamente o saber e mostra que implica paixão, emoção, que o saber impacta a história de vida das pessoas. Essa nova pedagogia é libertadora, pois mostra que não se pode falar em um saber melhor ou pior.
Observo que a população de certo modo já começa a tomar consciência dessa ausência de critérios éticos na vida cotidiana, iniciando reações no sentido de cobrar dos governantes medidas éticas para acabar com a impunidade.
Formular uma educação ética não é fácil. O Estado autoritário, o proselitismo das religiões e democracia laica com sua visão puramente temporal do ser humano, constitui-se em fatores que dificultam essa formulação, mas o educador não pode desistir de buscar um caminho para formar a consciência da juventude, pois é a partir dela que se pode construir uma sociedade de justiça e liberdade.
Acredito que a capacitação docente supervalorizada para o êxito qualitativo da educação necessita pilares básicos para que isso aconteça: a interação com os pais dos alunos e políticas públicas que promovam medidas disciplinares adaptadas à realidade da escola. Não basta ao professor o domínio didático curricular, mas uma formação humana negando o autoritarismo. É preciso na escola um projeto que permite articular projeto pedagógico com o humano para que ocorra a educação pelos afetos onde se concretize uma educação de qualidade onde reine a confiança, a transmissão da segurança e predomine a interação do professor com o aluno através do diálogo e do respeito cooperativo.

A educação é um ato de fé. E é nisto que acredito.

Autor: Vilson Arruda

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